sábado, 3 de outubro de 2009

Mudamos

Caros leitores,
A partir deste mês, estaremos hospedados no site da revista Época. Em alguns segundos, você será redirecionado para o nosso novo endereço. Caso isso não ocorra, acesse o link:

http://colunas.epoca.globo.com/sobalupadoeconomista/

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Confusão no Metrô

Ontem o Metrô de São Paulo testou um novo esquema de embarque em horários de pico, nas estações Sé e Tatuapé. Para conter o empurra-empurra, permitiu-se que um número limitado de pessoas tivesse acesso à área de embarque. Os demais esperariam em um barreira, até que o próximo trem chegasse.

O resultado não foi dos melhores, já que o empurra-empurra foi transferido para a barreira. Tudo isso junto com a chuva (que torna o metrô mais lento) fez com que a operação fosse abortada após 45 minutos.



(foto extraída do portal do Estadão, 29/9/2009)

Uma forma simples de aliviar o problema da lotação em horários de pico é através do preço. Um bilhete mais caro na hora do rush faria com que diversas pessoas optassem por horários alternativos, que teriam um preço relativamente baixo. O metrô de Santiago, no Chile, adota um esquema do tipo, cobrando mais caro por viagens entre 7:00 e 9:00, e entre 18:00 e 20:00 (veja aqui).

É claro que isso pode criar substituição para outros meios de transporte, transferindo a lotação para ônibus e trens, por exemplo. Desta forma, seria necessário também ajustar as tarifas nos horários de pico também nestes casos.

Um efeito colateral perverso pode ser o aumento do número de carros nas ruas na hora do rush, se imaginarmos que as pessoas utilizavam o metrô (mesmo possuindo um automóvel) por conta da tarifa relativamente barata. Neste caso, seria necessário também criar uma punição, como o pedágio urbano, para quem usa o carro em horários de pico. Mas isso está longe de ser uma realidade em São Paulo. Deixo esta discussão para outro post.

domingo, 27 de setembro de 2009

Mudança de Endereço

Caros leitores,
A partir do começo de Outubro o Blog muda de lugar. Estaremos dentro do site da revista Época.

Taxi só lá embaixo!

Fui a Minas e a Santa Catarina semana passada dar palestras sobre nosso livro que dá nome a esse Blog. Nas duas vezes, quando cheguei de volta a Congonhas, ao sair pelo portão de desembarque me deparei com uns caras truculentos ao lado direito, formando uma espécie de barreira humana. Eles gritavam: "táxi só lá embaixo".
Para impedir que os passageiros pegassem táxis "não cadastrados", ou seja, para livrar a turma do aeroporto da concorrência, esse pessoal fazia parecer que pegar táxi na rua paralela ao desembarque era algo proibido por lei! E eles estavam lá de braços cruzados para fazer "a lei" valer. Impressionante. Quem ganha e quem perde? A proteção rende ganhos ao aeroporto em forma de taxas pagas pelos motoristas e, obviamente, aos taxistas estabelecidos. Quem perde, você já deve imaginar....
Este tipo de arranjo, aliás, era muito comum alguns séculos atrás. Na Europa, reis sem estrutura tributária sofisticada e ávidos por recursos para financiar pajelanças e guerras com vizinhos entregavam poder de monopólio legal a certos grupos de amigos, os tais amigos do rei, em troca de uma parcela dos ganhos extraordinários associados ao monopólio.
Contrastando com essa história de conluio em prejuízo do consumidor, ao ir ao parque Villa Lobos hoje com minha filha me impressionei com o custo horário da bicicleta dupla (que chegou ao parque algum tempo atrás e virou coqueluche), que havia alugado antes da viagem. Nesse interregno, o preço caíra pela metade! A explicação logo me ficou clara: na frente do parque, onde se alugam bicicletas, bolas e patins, vi que um outro microempreendedor, ao perceber a forte demanda pela tal bicicleta dupla, tinha reorganizado sua frota e estava oferecendo a tal bicicleta em grande quantidade aos clientes, forçando a concorrência a trazer o preço para algo mais próximo ao custo.
Hoje andei uma hora de bicicleta, ao invés dos usuais trinta minutos.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Pague 5, Leve 4

Na última quinta-feira, a Folha de São Paulo publicou uma nota informando que a Net foi condenada a ressarcir os usuários que ficarem sem sinal de TV ou internet. Acredito que a decisão seja justa; afinal, o consumidor deve pagar pelo que consome. Na feira, se ele pagar por 5 bananas, ele recebe as 5, e não 4. O princípio deve ser o mesmo para TV a cabo.

Mas a medida, se implementada, pode ter efeitos não triviais. Mais precisamente, quando um consumidor paga um valor fixo por mês, o risco para a firma é muito baixo. Basicamente, ela recebe o mesmo montante, independente da queda ou não do sinal (o risco incide inteiramente sobre o consumidor). É claro que a firma pode perder consumidores, insatisfeitos com as interrupções de sinal. Este efeito, porém, deve ser limitado aqui, uma vez que este mercado está longe de ser concorrencial.

A decisão do judiciário paulista transfere parte do risco para a Net, que passa a perder dinheiro com cada queda de sinal. Isso deve melhorar a qualidade do serviço, na medida em que a companhia passa a empreender maiores esforços para evitar este problema. Entretanto, eleva-se o custo para a firma, o qual deve ser em parte repassado para o consumidor. Adicionalmente, para compensar a maior exposição ao risco por parte do produtor, os preços também deverão subir.

Quem se dá mal com isso são as pessoas que pagam pelo serviço, mas não o utilizam com muita frequência (como aqueles que assistem TV somente à noite ou nos fins de semana). Estas pessoas beneficiam-se muito pouco com a melhora na qualidade do serviço (já que a probabilidade de ocorrer uma queda de sinal quando estão à frente da TV é baixa), mas têm que pagar um preço mais caro.

O ideal, nesse caso, seria oferecer dois contratos: um mais caro, mas que compense a pessoa pela queda de sinal (isto é, com baixo risco para o consumidor) e outro mais barato, mas com preço fixo (isto é, o consumidor fica com o risco). Desta forma, as pessoas que assistem menos TV não precisariam pagar pelo benefício dos demais.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Mais sobre pirataria

O economista Koleman Strumpf, da University of North Carolina, traz alguns exemplos divertidos de propagandas anti-pirataria utilizadas pela indústria de entretenimento no passado, como reação a novas tecnologias que iam aparecendo. Veja aqui.

O interessante é a propaganda contra as cópias caseiras de fitas cassetes as quais, da mesma forma que a Internet hoje, estariam "matando a música". Divertido também é o vídeo entitulado "Don't copy that floppy", produzido pela indústria contra as cópias de games (na década de 80 acredito), feitas utilizando os antigos disquetes (floppy disks). Em um ponto, a letra da música diz "este é o fim da era do computador", implicando que as cópias domésticas de jogos eletrônicos por disquetes destruiriam a indústria.

O vídeo "Don't copy that floppy" da página de Strumpf tem uma qualidade muito ruim. Uma versão melhor pode ser encontrada aqui.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Piratas!

Recentemente, o governo francês decidiu apertar o cerco contra quem baixa ilegalmente arquivos de música da Internet. Basicamente, a pessoa que for pega 3 vezes fazendo downloads ilegais teria seu acesso à Internet cortado, ou poderia ser até condenada a prisão.

O governo inglês agora estuda implementar uma lei deste tipo. Surpreendentemente, diversos artistas de peso estão se posicionando contra a medida, como Radiohead, Pink Floyd e Blur (veja a matéria do Times sobre o tema aqui).

A justificativa é que, ainda que as vendas de álbuns se reduzam, a Internet pode elevar o número de fãs de um artista, permitindo um aumento nas vendas de ingressos para shows, camisetas, pôsteres, entre outros. Isso porque a Internet possibilita que o trabalho de um artista seja amplamente difundido: quando uma música cai na rede, ela pode ser compartilhada por milhares de pessoas utilizando softwares P2P (como Kazaa, Soulseek, Emule), que passam a conhecê-la (e potencialmente se tornam fãs do artista ou banda). Leis que proíbem as trocas ilegais de arquivos dificultariam este efeito de divulgação, principalmente entre o público mais jovem (justamente quem gasta mais em shows, camisetas, etc.).

Na verdade, o artigo empírico de Felix Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf (Journal of Political Economy, 2007) não encontra nenhuma evidência de que a Internet tenha reduzido mesmo vendas de CDs nos Estados Unidos (discutimos com mais detalhe este trabalho em nosso livro). É bem possível que o fã de um artista prefira comprar um produto de melhor qualidade (já que o CD não só tem melhor áudio do que arquivos mp3, mas vem com encarte e caixa específicos). Ou seja, os arquivos mp3 baixados ilegalmente da Internet provavelmente não são substitutos tão perfeitos para o CD.

O interessante é que a cantora Lily Allen, revelada na Internet, posicionou-se fortemente contra as trocas ilegais de arquivos (veja matéria aqui). O debate continua.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Combatento monopólio com mais monopólio?

Recentemente, os vereadores de Ilha Bela, que supostamente deveriam defender os interesses da população como um todo, aprovaram uma lei que seria cômica se não fosse trágica: segundo o novo dispositivo legal, alguém desejando abrir um estabelecimento comercial por aquelas paragens só poderá fazê-lo se a nova loja estiver a pelo menos 300 metros do concorrente mais próximo já estabelecido.

O objetivo? Segundo o vereador Erick Pina o propósito é evitar o monopólio das grandes redes e expandir o comércio para outros pontos da cidade!!???!!

Na verdade, como provavelmente sabe o vereador, a lei aumenta o poder do monopólio dos já estabelecidos, sejam eles de que tamanho forem, impondo uma barreira à entrada totalmente artificial, ou seja, criada pela lei, e não fruto de um avanço tecnológico que dá poder de mercado temporário ao inovador líder (remunerando assim sua inovação). Combater monopólio com monopólio me parece uma contradição incontornável.

A segunda parte do argumento do vereador Pina não é menos esdrúxula: com a lei ele pretende espalhar o comércio para outros cantos da cidade! Pergunto: se fosse interessante abrir lojas em outros pontos de Ilha Bela, hoje delas desprovidos, por que os comerciantes não o fariam por si sós? Se não estão lá hoje é porque não é economicamente eficiente. Ou existe alguma falha de mercado que me escapa na análise?

É bem possível que a lei anticompetição venha a falecer precocemente. Caso contrário, os moradores e visitantes de Ilha Bela pagarão mais caro pelos bens e serviços ofertados na Ilha, e alguns estabelecimentos comerciais terminarão em locais onde não deveriam estar, comprometendo assim a eficiência econômica.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Galvão Bueno e a Crítica de Lucas

No fim da década de 70, Robert Lucas (prêmio Nobel de 1995) lançou um argumento - a chamada "Crítica de Lucas" - que colocou em dúvida as predições dos modelos macroeconômicos de então. Tais modelos supunham que os agentes econômicos agiam "olhando para trás", ou seja, utilizavam somente informações passadas para pautar suas ações. Nesse sentido, qualquer notícia nova (tal como um anúncio do governo) não influenciaria em nada o seu comportamento.

Segundo Lucas, se supormos que os agentes são racionais - no sentido de que eles utilizam toda a informação disponível a eles - o efeito de uma política econômica pode ser radicalmente diferente, a depender de como se percebe tal mudança. Por exemplo, se o Banco Central anunciar uma política de combate a inflação, e os agentes perceberem este anúncio como crível, o custo da política pode ser pequeno (em termos de perda de produto de curto prazo), na medida em que firmas e trabalhadores ajustam para baixo suas expectativas de inflação. No mundo dos modelos macroeconômicos da década de 70, esse anúncio seria completamente irrelevante, já que os agentes formam suas expectativas usando só a informação passada.

Nos últimos anos, a crítica de Lucas não só tem influenciado a academia, mas também formuladores de política. Todo o ponto do sistema de metas de inflação, por exemplo, é anunciar o comprometimento do Banco Central com inflação baixa, tentando assim influenciar a formação de expectativas dos agentes.

Mas como essa discussão se relaciona com o futebol (e, em particular, com Galvão Bueno)? Suponha uma partida em que o time A venceu o time B por 1 a 0, mas o ártibro não deu um gol legal para B. Várias pessoas argumentariam que, se a falha não ocorresse, o jogo terminaria em 1 a 1. Não necessariamente, segundo a crítica de Lucas. O ponto é que o gol de B mudaria o comportamento das equipes. Por exemplo, frente a um empate de B, o time A poderia se comportar mais ofensivamente, na busca da vitória. Sem informações adicionais, não dá para afirmar nada sobre o resultado final.

No último jogo Brasil e Argentina, Galvão Bueno argumentou que o Brasil estava sendo prejudicado no primeiro tempo, por conta do cartão amarelo não dado a Mascherano pela falta em Kaká (puxão de camisa). Minutos depois, frente a uma falta similar, Lúcio recebeu amarelo, levando Kaká a reclamar e receber também a punição (que o retirou do jogo contra o Paraguai). Galvão sustenta que:
(i) Se Mascherano recebesse o amarelo, Kaká não teria reclamado (como se isso fosse desculpa para a reclamação)
(ii) Mascherano teria sido expulso ao final do primeiro tempo, quando fez falta dura (e finalmente tomou amarelo)

O ponto (i) claramente passa o teste da crítica de Lucas. Galvão supõe corretamente que Kaká reage à "mudança de política" (o amarelo não mostrado ao defensor argentino), reclamando do árbitro. Se o cartão fosse mostrado a Mascherano, o meia brasileiro provavelmente não reclamaria e não seria punido. Mas o segundo ponto está em desacordo com Lucas. Se já estivesse pendurado, Mascherano com certeza não faria a falta dura que lhe deu o amarelo, correndo assim o risco de ser expulso.

Fica então a pergunta: por que Galvão supõe que apenas o brasileiro é um agente sofisticado, que reage à "mudança de política"?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"Bilhete de Loteria"

O tio do primo de um amigo meu ganhou na loteria uns anos atrás. A princípio, todos ficaram extremamente contentes com os milhões que subitamente entraram nas contas do senhor de renda média. Uma verdadeira "dádiva de Deus".

Semana passada, meu amigo me ligou, entristecido. Relatou-me que a família havia passado por uma grande cizânia, seguida de inúmeras brigas miúdas, com cada um querendo abocanhar parte dos recursos de Deus. A loteria gerou, paradoxalmente, uma piora do bem-estar de todos.....

A notícia, apesar de triste, não deveria surpreender um economista. Afinal de contas, há uma vasta literatura sobre a chamada "Maldição dos Recursos Humanos", relatando como a descoberta de algum recurso natural importante pode acabar piorando a situação de um país.

Há dois canais de transmissão ligando recursos naturais à piora no desenvolvimento econômico ao longo do tempo. O primeiro, e a meu ver menos importante, é o do câmbio: mais petróleo fluindo do chão gera expressivo aumento da entrada de dólares no país, apreciação cambial e, consequentemente, perda de competitividade no setor de bens comercializáveis. Como esse setor apresenta em média maiores ganhos de produtividade ao longo do tempo que o de não comercializáveis, o crescimento de LP reduz-se. Esse problema pode ser parcialmente equacionado com a formação de fundos públicos destinados à compra de moeda forte.

O segundo canal tem a ver com a economia política do gerenciamento dos recursos naturais. Em países com instituições político-econômicas de má qualidade, a descoberta dos recursos naturais gera conflitos domésticos, muitas vezes armados, que destroem o tecido social e a capacidade de formulação de consensos, dado que cada grupo da sociedade passa a investir pesadamente em apropriar-se da recém descoberta dádiva de Deus a qualquer custo. Consequentemente, a política e a política econômica deterioram e o resultado final é estagnação da economia, impregnada por ávidos rent-seekers. Além disso, ocorre também um conflito geracional quando se descobre uma riqueza enterrada no solo: a geração corrente se apressa para gastar a dádiva, com prejuízo das gerações futuras, que ficam a ver navios (e às vezes precisam pagar pela farra gerada pelo excesso de otimismo da geração corrente).

Claro, na Noruega a descoberta de petróleo trouxe benefícios para a sociedade, dada a maturidade institucional daquele país, que possibilitou o uso racional da nova riqueza sem causar danos à coesão da polity. Mas em Serra Leo e na Nigéria, diamantes e petróleo estão mais para dádiva do diabo do que de Deus.

O Brasil é institucionalmente mais desenvolvido que Serra Leo, mas menos que a Noruega. Portanto, é difícil saber se o petróleo do pré-sal fará mais bem que mal a essa altura. Mas o leitor mais atento pode reclamar que estou colocando o carro à frente dos bois, pois o pré-sal ainda é só uma possibilidade. De fato, se o governo seguir planejando matar os incentivos privados à exploração, como sinalizou nesses dias com seu plano a la anos 50, não precisaremos nem nos preocupar com a Maldição dos Recursos Naturais, pois o petróleo dificilmente jorrará.

ps. Sobre esse tema, deixo aqui uma recomendação de leitura que me foi sugerida pelo Gabriel Madeira, da USP (http://www.res.org.uk/economic/freearticles/january06.pdf).

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Amostra grátis

Em nosso livro, "Sob a Lupa do Economista" (Campus/Elsevier), utilizamos uma linguagem simples e acessível para apresentar diversas implicações da teoria econômica, discutindo também alguns dos resultados empíricos recentes.

O livro cobre uma diversa gama de temas, indo dos mais tradicionais (como inflação, déficit público, a crise de 2008/2009, comércio internacional, patentes e a indústria farmacêuticas) até os mais inusitados, mas que fazem parte da pesquisa acadêmica na área, como bruxaria, religião, terrorismo e futebol.

O livro é composto por 46 textos curtos e autocontidos. No link abaixo, o leitor pode encontrar uma amostra do nosso trabalho.

http://www.usp.br/feaecon/incs/download.php?i=537&file=../media/livros/file_537.pdf

O arquivo pdf contém nosso prólogo, o prefácio escrito pelo jornalista Heródoto Barbeiro, e dois textos: um tratando sobre o comércio de órgãos humanos, e outro discutindo as implicações de decisões individuais sobre o coletivo (como, por exemplo, o impacto de gasto individual de água sobre a conta paga por um condomínio).

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Os custos da proteção

Há algumas semanas atrás, Lula sentiu na pele os custos da proteção à indústria nacional de informática. Ao perceber as limitações à política de distribuição de laptops a alunos da rede pública, resultantes do alto custo do equipamento nacional, o presidente ameaçou:

"Eu sou o maior defensor da indústria nacional, mas, se a indústria nacional não conseguir fazer a um preço acessível, nós vamos ter que importar alguns para fazer com que a política chegue à população mais pobre desse país" (portal do Estadão na Internet, 31/7/2009)

Na maioria dos argumentos favoráveis ao protecionismo, enfatiza-se o desenvolvimento da indústria nacional, incapaz de competir com os produtores externos. Mas os custos - na forma preços mais altos e qualidade mais baixa para os consumidores - passam quase sempre desapercebidos.

Entretanto, neste caso em particular, o presidente indica quem vai pagar este custo: as crianças pobres das escolas públicas, muitas das quais podem ficar sem um laptop por conta do alto preço do produto nacional. Note-se que custo também recai sobre quem paga imposto, dado que o governo poderia economizar recursos se comprasse os computadores da China, por exemplo.

Pode-se argumentar que a proteção é necessária para o desenvolvimento da indústria nacional (o conhecido argumento da indústria nascente), que poderia ganhar produtividade no futuro como resultado da sua expansão. Mas esta expansão seria impossível com a concorrência externa. Daí a necessidade de barreiras comerciais.

Entretanto, o artigo empírico de Eduardo Luzio e Shane Greenstein (Review of Economics & Statistics, 1995) mostra que, durante a década de 80 (um período de proteção pesada à indústria de computadores, com a famosa "reserva de mercado"), a indústria brasileira de computadores não apresentou praticamente nenhuma aproximação em relação aos níveis internacionais de competitividade. Ou seja, os ganhos dinâmicos da proteção foram basicamente nulos, sobrando os custos para os consumidores. (Discutimos este ponto com maior detalhe em nosso livro)

Se o presidente deseja ajudar as crianças pobres do ensino público, universalizando o acesso a computadores, ele poderia eliminar a proteção à indústria de informática.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

BC Político?

Meirelles é candidato a governador, apoiadíssimo por Lula. Deve ele permanecer no cargo de presidente do BC?

A evidência empírica internacional sugere que enquanto o ciclo eleitoral influencia fortemente a política fiscal em democracias não maduras (ver os artigos de Alan Drazen e co-autores), não há evidência robusta de que a política monetária seja afetada pelo ciclo político (ver, por exemplo, Alesina et al, "Political Cycles and the Macroeconomy", MIT Press, 1997). A explicação sugerida para esse achado é simples: quem brinca com política monetária com fins eleitoreiros pode sair chamuscado, dado o risco de se colher inflação alta antes da eleição chegar. E de inflação, o povo não gosta nem um pouco. Além disso, é fato conhecido que os BCs são, em média, institucionalmente mais imunes à pressão política do que os Tesouros.

Em trabalho publicado na PPE dois anos atrás, eu e meu orientando de mestrado, Fernando Fenolio, também não achamos qualquer evidência de que a questão eleitoral jogue qualquer papel na explicação dos rumos da Selic. Mais precisamente, mostramos que dummies eleitorais não são significativas na estimação de uma Regra de Taylor para o Brasil pós-flutuação.

É bom para o país que a autoridade monetária não sofra qualquer influência do ciclo político, como tem sido o caso até aqui. Portanto, não vejo com bons olhos a ideia de Meirelles continuar no comando do BC por mais tempo. O conflito de interesses é óbvio demais. E não há porque temer uma mudança de comando, dada a credibilidade adquirida pela instituição BC.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Debate sobre sistema de saúde nos EUA

Medicina preventiva não é sinônimo de economia de recursos, segundo
esse colunista do Washington Post. Muito interessante o texto. Agradeço ao Marcos Fantinatti a indicação de leitura.

http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/08/13/AR2009081302898.html

Esse texto do Mankiw vai ao ponto e, de quebra, provê um belo exemplo
de monopsônio para ser ensinado em sala de aula.

http://www.nytimes.com/2009/06/28/business/economy/28view.html?_r=1

Milton Friedman e o Lápis

Em 1980, Milton Friedman - prêmio Nobel de 1976 e um dos economistas mais influentes do século XX - lançou uma série de TV entitulada "Freedom to Choose", em que discute temas como o papel dos mercados, a Grande Depressão, desenvolvimento econômico, inflação e política monetária.

No link a seguir, Friedman explica como diversas pessoas cooperam (através de mecanismos de mercado), mesmo sem se conhecer, para fabricar um simples lápis:

http://www.youtube.com/watch?v=d6vjrzUplWU&hl=pt-BR

Na verdade, a série está inteiramente disponível na Internet. Nos anos 90, os vídeos receberam nova roupagem. O primeiro deles é apresentado pelo então ator e agora governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger (economista de formação).

http://www.ideachannel.tv/

Vale muito a pena. Excelente aula de Economia.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Credibilidade faz milagre!

A maioria dos economistas associa deflação com péssima performance econômica, contaminados talvez por alguns episódios clássicos onde preços e atividade caíram simultaneamente, como no Japão dos anos 90. Mas a grande verdade é que essa associação é menos robusta do que parece. A curva de Phillips aumentada das expectativas explica porque...

Como mostram os autores do paper Three Great American Disinflations (http://www.nber.org/papers/w12982), tudo depende da credibilidade da política monetária no momento e da velocidade do processo. Na década de 1870, quando os EUA planejavam a volta ao padrão ouro depois da guerra de secessão, os preços declinaram 30% mas a economia cresceu uma média de 5% a.a! O motivo foi o reconhecimento por parte do setor privado que o anúncio de retorno ao padrão-ouro era crível (até porque este era um arranjo monetário muito comum em vários países na época). Além disso, o processo envolveu boa dose de gradualismo.

Já na década de 1920, após a guerra, o retorno ao padrão-ouro trouxe consigo um curto período recessivo. Exatamente no ano de 1920, a atividade desabou. A conjectura dos autores é que isso decorreu não da falta de credibilidade do plano, mas sim da extrema velocidade com que ele foi perseguido. Tanto o anúncio era crível, que em 1921 a atividade já voltara a crescer com vigor, em meio a quedas de preços.

Por fim, a desinflação de Volcker nos anos 1980 gerou tremendos custos para a atividade econômica, como é de conhecimento de todos. Pudera: depois de duas décadas de frouxidão no combate contra a inflação, o anúncio do recém empossado presidente do FED em 1979 de que a inflação retornaria para algo próximo a 3% não soou nada crível. Resultado: inflação realizada em queda com desemprego explosivo.

Uma outra evidência interessante do paper que dá força para a história delineada: usando dados dos mercados futuros de commodities, os autores mostram que os erros de previsão quanto à trajetória dos preços nos episódios de 1870 e 1920 foram muito pequenos (principalmente no de 1870), enquanto os da década de 1980 foram enormes.

Credibilidade de fato faz milagres!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Teto Salarial no Futebol Brasileiro

Provavelmente por conta da saída de André Santos e Christian para o futebol europeu (e o sofrível desempenho do Corinthians após isso), Lula entrou de cabeça na discussão sobre a baixa qualidade do futebol brasileiro. Desde então, algumas propostas vem sendo apresentadas, com destaque para: (i) a adequação do nosso calendário ao europeu, de modo a evitar o êxodo de jogadores no meio do campeonato brasileiro; e (ii) o fortalecimento das finanças dos clubes, com a profissionalização dos mesmos.

Neste último ponto, o ministro dos Esportes Orlando Silva chegou até a falar sobre uma Lei de Responsabilidade Fiscal para o futebol brasileiro. Diversas pessoas vem argumentando que os altos salários de jogadores e técnicos seriam a chave do problema. Haja vista os salários de técnicos de primeira linha, como Muricy, Luxemburgo e Mano Menezes, acima de R$400 mil por mês. Até a Portuguesa chegou a oferecer R$150 mil para Mancini assumir o posto de treinador.

Daqui vem desdobramento quase natural: colocar um teto salarial na remuneração de técnicos e jogadores.

Na verdade, a ideia de teto salarial encontra certo apoio na teoria econômica. O ponto é que os clubes têm todo o incentivo do mundo a pagar salários muito altos. Isso porque, ao contratar um bom jogador, o clube não somente aumenta sua produtividade (suas chances de se tornar campeão), mas também reduz as chances de seus rivais, que não podem contar com o craque. Esse benefício extra faz com que cada clube individualmente esteja disposto a pagar, para o jogador, um valor acima de sua produtividade. Com todos os clubes se comportando dessa forma, haverá uma demanda muito alta por bons jogadores, pressionando excessivamente os salários e, portanto, debilitando as finanças dos clubes.

O teto salarial seria uma forma de mitigar esse problema. E a ideia não é nenhuma novidade: a liga americana de basquete (NBA) utiliza já há algum tempo um esquema de limitação a salários.

O problema é que esta política não funcionaria no caso brasileiro. Primeiro porque os clubes poderiam pagar seus jogadores e técnicos de outras formas, como direitos de imagens, luvas e pagamentos por vitórias/títulos (o popular "bicho"), escapando do teto salarial. Isso não ocorre na NBA pois a liga é extremamente centralizadora, controlando com mão-de-ferro o comportamento de clubes e jogadores (até a vestimenta dos jogadores é objeto de controle da liga). Por aqui, precisaríamos que um órgão como a CBF ou o Clube dos 13 fizesse essa função. Claramente, essa não seria uma opção muito boa.

Segundo (e mais importante), jogadores e técnicos poderiam sair do Brasil para buscar salários acima do teto. Aqui, a política poderia ter o efeito perverso de aumentar ainda mais o êxodo (e previnir que determinados jogadores sejam repatriados), reduzindo ainda mais qualidade do nosso futebol. Na NBA, isso não ocorre pois a liga é de longe a mais importante do mundo, e jogadores de alto nível dificilmente saem dos Estados Unidos. Mas a concorrência com a Liga Europeia de Basquete pode alterar este quadro nos próximos anos. Já até se fala em Lebron James jogando na Grécia.

Se implantarmos o teto salarial, os maiores beneficiados seriam os clubes europeus, árabes, japoneses, etc., que teriam menor competição pelos seus jogadores e treinadores.

Convite

Convidamos a todos para o lançamento do nosso livro, "Sob a Lupa do Economista"

Data: 13/08, 19:30
Local: Saraiva MegaStore, Shopping Morumbi, São Paulo (SP)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Revolução Profilática

Em sociedades oligárquicas onde pequenos grupos de interesse influenciam em demasia o rumo das políticas e manipulam os governos para benefício próprio, o desenvolvimento das instituições não ocorre. E, como mostra uma enorme gama de artigos empíricos surgidos nos anos 90, sem boas instituições (regras estáveis, direitos de propriedade bem definidos para todos na sociedade; ambiente propício à competição, etc), não há crescimento de longo prazo.

Anos atrás, o genial sociólogo-economista Mancur Olson propôs a tese controversa de que revoluções que desestabilizam as elites são boas para o crescimento de longo prazo, dado que elas virtualmente dizimam os grupos de interesse que com o tempo se encastelam no poder e impedem melhoras institucionais e adoções de novas tecnologias (porque essas minam as bases de sua posição privilegiada). Olson até apresenta alguma evidência sugestiva de que os estados norte-americanos mais antigos e estáveis apresentaram por um tempo taxas de crescimento menores que aqueles mais novos, nos quais nenhum grupo de interesse ainda tinha tido tempo para fincar pé e impedir o desenvolvimento.

Em interessante artigo recente que carrega o gérmen da ideia de Olson, Daron Acemoglu e seus co-autores (http://econ-www.mit.edu/files/3951) empregam técnicas estatísticas e estratégia de identificação sofisticadas para avaliar o impacto das invasões napoleônicas no desenvolvimento econômico das regiões européias invadidas. Onde o exército francês pós-revolucionário entrou, ele varreu as oligarquias locais, instalou o uma ordem jurídica nova que chegava a amplas camadas da população, suprimiu os resquícios feudais e as agremiações de ofício que asfixiavam a competição na economia, além de promover os ideais "liberalizantes" da Revolução Francesa. Em suma, indiretamente, a fúria de conquista militar francesa trouxe importantes externalidades positivas para as intituições das regiões invadidas. As consequências?

Nos locais invadidos, a taxa de urbanização (medida indireta de desenvolvimento econômico) posteriormente acelerou-se de modo significativo, em comparação a das regiões que escaparam das garras do general, e também em relação ao seu próprio desempenho prévio. O mesmo resultado diferencial vale para as taxas de crescimento do PIB, mas é importante ressaltar que as medidas de PIB são bem menos precisas para o período em questão.

Enfatize-se que nesse caso não vale a crítica de que na verdade Napoleão decidiu invadir justamente as regiões que já estavam se desenvolvendo mais rápido (a famosa "causalidade reversa"), dado que o que determinava o local a ser atacado não era sua opulência econômica, mas sim suas características geográficas no bojo do plano de expansão territorial e de proteção do território francês.

Uma bela sacolejada exógena no status quo da oligarquia local é assim boa receita para destravar mudanças institucionais pró-desenvolvimento. Mais do que isso, esse achado enfraquece a tese do economista de Harvard, Dani Rodrik, segundo a qual instituições precisam ser germinadas em solo nacional, não podendo ser frutiferamente importadas.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Não se deve faltar à aula de microeconomia...

Depois de ter chamado o Estado brasileiro de "raquítico", Marcio Pochman, presidente do IPEA veio a público com outro argumento primitivo para defender a alta carga tributária prevalecente no Brasil. Segundo ele, porque boa parte da carga de impostos retorna à sociedade diretamente sob a forma de programas de transferência de renda e pagamento de juros da dívida (detida majoritariamente por brasileiros), o governo não estaria onerando demais a sociedade, em termos líquidos.

Das duas uma: ou Pochman faltou às aulas introdutórias de microeconomia, ou age de má fé. Primeiro, a carga tributária no Brasil como proporção do PIB é quase o dobro da média das outras economias emergentes. Portanto, "raquítica" parece uma adjetivação imprópria. Segundo, e mais importante, mesmo que todo imposto voltasse direto ao bolso da população sob a forma de transfências diretas, a taxação ainda assim prejudicaria a economia. Isso porque o imposto distorce as decisões das pessoas, que trabalham menos ou vão para a informalidade quando a alíquota cresce; e das firmas, que cortam investimentos e contratam menos se precisam entregar boa parte dos frutos da sua produção ao governo.

Por que as pessoas e firmas evitam os impostos mesmo quando eles voltam inteiramente à sociedade? Porque, sob o ponto de vista individual, escapar da taxação gera benefícios grandes e um custo muito pequeno. Sim, se alguém escapa do imposto há menos dinheiro para o governo transferir para a sociedade como um todo, mas como cada agente econômico é apenas uma fração ínfima da sociedade, isso pouco afeta sua escolha. Portanto, a noção de carga tributária líquida de transferências é absurda. Pochman simplesmente ignora (no melhor dos casos) que impostos geram distorções nas decisões dos agentes econômicos, qualquer que seja o uso do montante arrecadado. É lamentável.

Apêndice: modelo simples de distorção

Um modelinho estilizado ajuda a entender o ponto apresentado acima. Pense em um país com 10.000 pessoas, onde cada um empregado no mercado formal paga 10 moedas de imposto ao governo, gerando um total de 100.000 de arrecadação. Para simplificar, suponhamos que o governo não gaste nada com sua própria manutenção (uma hipótese e tanto!): tudo que arrecada ele devolve à sociedade. A carga tributária líquida -- conceito caro a Pochman -- é, nesse exemplo, igual a zero. Cada um na sociedade recebe de volta 100.000/10.000 = 10 moedas. Mas o quanto ganha quem consegue escapar do imposto, migrando para o setor informal da economia onde o governo não arrecada nada, por exemplo? Esse indivíduo, claro, deixa de perder 10 moedas. A arrecadação do governo, consequentemente, cai para 99.990 reais. Dividindo a arrecadação total pela população, cada um passa a receber em transferências 9,99 reais (arredondando), ao invés de 10 reais. Quem não pagou deixa de perder 10 reais e perde apenas 1 centavo sob a forma de menor transferência. Seu ganho líquido: 10 - 0,01 = 9,99. Daí o incentivo a fugir do imposto. O problema é que como consequência muita gente passa ao setor informal, que é menos produtivo que o formal. A economia como um todo sai prejudicada.

Texto de Apresentação

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Além de realizar esse trabalho de divulgação, o Blog também será palco para discussão de temas que afetam nosso cotidiano, sejam esses puramente econômicos ou não. O fio comum que une nossos textos não se baseia na gama de assuntos tratados, e sim na lógica empregada para melhor compreendê-los.