Provavelmente por conta da saída de André Santos e Christian para o futebol europeu (e o sofrível desempenho do Corinthians após isso), Lula entrou de cabeça na discussão sobre a baixa qualidade do futebol brasileiro. Desde então, algumas propostas vem sendo apresentadas, com destaque para: (i) a adequação do nosso calendário ao europeu, de modo a evitar o êxodo de jogadores no meio do campeonato brasileiro; e (ii) o fortalecimento das finanças dos clubes, com a profissionalização dos mesmos.
Neste último ponto, o ministro dos Esportes Orlando Silva chegou até a falar sobre uma Lei de Responsabilidade Fiscal para o futebol brasileiro. Diversas pessoas vem argumentando que os altos salários de jogadores e técnicos seriam a chave do problema. Haja vista os salários de técnicos de primeira linha, como Muricy, Luxemburgo e Mano Menezes, acima de R$400 mil por mês. Até a Portuguesa chegou a oferecer R$150 mil para Mancini assumir o posto de treinador.
Daqui vem desdobramento quase natural: colocar um teto salarial na remuneração de técnicos e jogadores.
Na verdade, a ideia de teto salarial encontra certo apoio na teoria econômica. O ponto é que os clubes têm todo o incentivo do mundo a pagar salários muito altos. Isso porque, ao contratar um bom jogador, o clube não somente aumenta sua produtividade (suas chances de se tornar campeão), mas também reduz as chances de seus rivais, que não podem contar com o craque. Esse benefício extra faz com que cada clube individualmente esteja disposto a pagar, para o jogador, um valor acima de sua produtividade. Com todos os clubes se comportando dessa forma, haverá uma demanda muito alta por bons jogadores, pressionando excessivamente os salários e, portanto, debilitando as finanças dos clubes.
O teto salarial seria uma forma de mitigar esse problema. E a ideia não é nenhuma novidade: a liga americana de basquete (NBA) utiliza já há algum tempo um esquema de limitação a salários.
O problema é que esta política não funcionaria no caso brasileiro. Primeiro porque os clubes poderiam pagar seus jogadores e técnicos de outras formas, como direitos de imagens, luvas e pagamentos por vitórias/títulos (o popular "bicho"), escapando do teto salarial. Isso não ocorre na NBA pois a liga é extremamente centralizadora, controlando com mão-de-ferro o comportamento de clubes e jogadores (até a vestimenta dos jogadores é objeto de controle da liga). Por aqui, precisaríamos que um órgão como a CBF ou o Clube dos 13 fizesse essa função. Claramente, essa não seria uma opção muito boa.
Segundo (e mais importante), jogadores e técnicos poderiam sair do Brasil para buscar salários acima do teto. Aqui, a política poderia ter o efeito perverso de aumentar ainda mais o êxodo (e previnir que determinados jogadores sejam repatriados), reduzindo ainda mais qualidade do nosso futebol. Na NBA, isso não ocorre pois a liga é de longe a mais importante do mundo, e jogadores de alto nível dificilmente saem dos Estados Unidos. Mas a concorrência com a Liga Europeia de Basquete pode alterar este quadro nos próximos anos. Já até se fala em Lebron James jogando na Grécia.
Se implantarmos o teto salarial, os maiores beneficiados seriam os clubes europeus, árabes, japoneses, etc., que teriam menor competição pelos seus jogadores e treinadores.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
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Caros,
ResponderExcluirNão acho que seja um problema muito técnico, que possa ser discutido com base na teoria econômica. O Futebol é marcado pela informalidade, muitas falcatruas, pagamentos no exterior a dirigentes, etc. Colocar teto de salário, ou discutir isso, só faria sentido se fosse um setor com maior nível de formalidade. Talvez a solução seja profissionalizar a gestão através da mudança do controle acionários dos clubes.
Parabéns pelo blog e boa sorte
M.
Eu acho que a sugestão de regra de teto salarial do ministro deveria ser aplicada. E para período inicial de teste (algo em torno de 50 anos), deveria ser aplicada somente no Corintians. Se funcionar, os outros clubes adotariam...
ResponderExcluirRodrigo Celoto
Concordo que boa parte disso também passa questão da profissionalização da gestão dos clubes. Mas acho que uma outra forma de tratar disso seria adequar os salários (estabelecendo um possível piso, e não teto!) de forma a produtitidade de cada jogador. Em outras palavras, seria uma questão de criar mecanismos que induziriam os atletas ao bom futebol (em busca de altos salários).
ResponderExcluirA idéia é pagar mais aquele atleta que faz bem o que foi programado para fazer.
Assim como no mercado de trabalho financeiro, por exemplo, muitas pessoas ganham em função dos resultados que cada um atinge. Como? É simples... imagine que uma pessoa receba 5 mil fixos por mês mais uma porcentagem do que "agregou" fazendo sua função. No mercado financeiro isso seria (usando um exemplo hipotético), a ganhar 5 mil fixo mais 30% dos ganhos líquidos que a pessoa conseguir trabalhando com o que faz.
Dessa forma, a idéia seria a de atrelar uma parcela dos salários dos atletas (e, quiça, dos técnicos) a sua produtividade. A CBF, imagino, teria um papel mais centralizador, uma vez que a função de estabelecer um cálculo de produtividade dos atletas (respeitando sua posição).
Enfim, as estatísticas intra-jogo existem! Algumas instituições trabalham com esse tipo de informação fornecendo consultoria para times, técnicos, imprensa, etc.
Por exemplo:
(i) para o atacante (creio que seja o exemplo mais fácil) seria o caso de identificar gols feitos ou aproveitamento das bolas recebidas -- seja em forma de passes/gol ou, literalmente, em forma de gol;
(ii) para o goleiro, seria o caso de identificar quantas bolas defendidas em relação à perigos de gol;
(iii) etc...
Feito isso, cria-se um mecanismo que incentiva o bom futebol!
Não vejo problema em um que jogador ganhar um altos salários caso ele seja craque!
O que alguns podem questionar é a viabilidade para os times pagarem altos salários... bem, aqueles que têm jogadores que são produtivos e, portanto, adquirem um passivo grande, têm garantia de um ativo a altura. Visto que bons jogadores, em última instância, podem ser vistos como resultados positivos nos jogos, isso se reflete nos cofres do clube (via aumento da arrecadação de ingressos e prêmios de torneios).
Enfim, isso é só uma idéia!
Abraço,
Guilherme
A implantação do teto salarial no futebol seria contornada por vários subterfúgios, tais como direitos de imagem, premiações, etc.
ResponderExcluirA adoção dessas medidas não é porque o futebol é pouco profissional, mas sim por causa da racionalidade dos agentes que procurarão maximizar seus retornos.
Os clubes brasileiros oferecerão essas alternativas de remuneração para atrair e/ou manter seus profissionais, pois quem não o fizer ficará em situação desfavorável. O equilibrio de Nash será oferecer essas alternativas de remuneração para fugir do teto.
Essa situação não ocorrerá na presença de um orgão fiscalizador que aplique sanções para quem desrespeitar o teto.
O caso do salário atrelado a produtividade já ocorre no Brasil e exterior. No Palmeiras Denílson e Léo Lima, por exemplo, recebiam de acordo com a quantidade de partidas que jogavam no ano passado. O resultado não parece ter sido muito significativo, ambos amargaram o banco de reservas por boa parte da temporada e não tiveram seus contratos renovados. Esse tipo de recurso só parece ser aplicado a jogadores que tem probelmas de contusão e físicos em geral, então possivelmente a amostra seja bem viesada.
ResponderExcluirEu desconhecia que isso já acontecia. Mas se o mesmo ocorre somente levando em conta a quantidade de jogos -- independentemente da abordagem não ser eficaz --, creio que seja uma forma bem pobre de tratar o assunto de produtividade. Como eu disse, existem dados intra-jogo que poderiam dar maior atenção à essa questão...
ResponderExcluirAcho que medir a produtividade com base nas estatísticas intra-jogo não resolveria o problema. Um exemplo é o jogo CartolaFC, onde poucas vezes aquele jogador que faz mais pontos é o que jogou melhor.
ResponderExcluirDe qualquer jeito, se o objetivo é melhorar a qualidade do futebol brasileiro, acho que a proposta de teto salarial é totalmente ineficaz. Se por um lado ela proporcionaria um maior equilíbrio nas contas dos clubes, por outro ela causaria um exôdo dos melhores jogadores ainda maior, pois esse mercado lá fora é muito forte.
Aliás, aos poucos, acho que os times já vem contando com melhores gestões do que há alguns anos. Com grandes dívidas e um campeonato de pontos corridos, a exigência por um bom planejamento ficou maior. Assim, lentamente, acredito que os clubes estão começando a respeitar sua restrição orçamentária intertemporal. Nesse caso, meios para fortalecer o futebol nacional passariam por tentativas de maior receita da TV e talvez pela adequação do calendário brasileiro ao europeu ou alguma maneira legal de proibir/limitar transferências na janela. Uma espécie de LRF também poderia ser estudada, mas, obviamente, sem colocar teto ao salário dos jogadores.
nao estou convencido do argumento de que como o time internaliza em sua decisao o fato de que um jogador nao sera contratado por um adversario, caberia intervencao. eu entendo que ha' uma ineficiencia se eu contrato um craque para coloca-lo sempre no banco (seria melhor que ele estivesse jogando num outro time mais fraco). mas nesse caso a intervencao seria limitar o numero de jogadores no elenco. agora, tirando isso, cade a ineficiencia? os craques vao sempre jogar. nao vejo ineficiencia, nao vejo razao pra intervencao.
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