quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Piratas!

Recentemente, o governo francês decidiu apertar o cerco contra quem baixa ilegalmente arquivos de música da Internet. Basicamente, a pessoa que for pega 3 vezes fazendo downloads ilegais teria seu acesso à Internet cortado, ou poderia ser até condenada a prisão.

O governo inglês agora estuda implementar uma lei deste tipo. Surpreendentemente, diversos artistas de peso estão se posicionando contra a medida, como Radiohead, Pink Floyd e Blur (veja a matéria do Times sobre o tema aqui).

A justificativa é que, ainda que as vendas de álbuns se reduzam, a Internet pode elevar o número de fãs de um artista, permitindo um aumento nas vendas de ingressos para shows, camisetas, pôsteres, entre outros. Isso porque a Internet possibilita que o trabalho de um artista seja amplamente difundido: quando uma música cai na rede, ela pode ser compartilhada por milhares de pessoas utilizando softwares P2P (como Kazaa, Soulseek, Emule), que passam a conhecê-la (e potencialmente se tornam fãs do artista ou banda). Leis que proíbem as trocas ilegais de arquivos dificultariam este efeito de divulgação, principalmente entre o público mais jovem (justamente quem gasta mais em shows, camisetas, etc.).

Na verdade, o artigo empírico de Felix Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf (Journal of Political Economy, 2007) não encontra nenhuma evidência de que a Internet tenha reduzido mesmo vendas de CDs nos Estados Unidos (discutimos com mais detalhe este trabalho em nosso livro). É bem possível que o fã de um artista prefira comprar um produto de melhor qualidade (já que o CD não só tem melhor áudio do que arquivos mp3, mas vem com encarte e caixa específicos). Ou seja, os arquivos mp3 baixados ilegalmente da Internet provavelmente não são substitutos tão perfeitos para o CD.

O interessante é que a cantora Lily Allen, revelada na Internet, posicionou-se fortemente contra as trocas ilegais de arquivos (veja matéria aqui). O debate continua.

2 comentários:

  1. Mas estas leis proíbem quem quiser de oferecer gratuitamente seu conteúdo? Me surpreende o resultado de que a pirataria não afetou a indústria fonográfica. Mas se os artistas são a favor e a indústria é indiferente, quem é contra?

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  2. A explicação é que outros eventos estariam relacionados ao declínio da indústria, por exemplo o fato de as pessoas terminarem de trocar suas coleções de LPs por CDs (na mesma época da expansão da internet), causando uma queda na demanda por CDs.

    Na verdade, a indústria fonográfica é contrária à pirataria (daí os processos judiciais). Mas você tem um bom ponto: se a internet não os afeta, por que se opor tão veementemente?

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