No fim da década de 70, Robert Lucas (prêmio Nobel de 1995) lançou um argumento - a chamada "Crítica de Lucas" - que colocou em dúvida as predições dos modelos macroeconômicos de então. Tais modelos supunham que os agentes econômicos agiam "olhando para trás", ou seja, utilizavam somente informações passadas para pautar suas ações. Nesse sentido, qualquer notícia nova (tal como um anúncio do governo) não influenciaria em nada o seu comportamento.
Segundo Lucas, se supormos que os agentes são racionais - no sentido de que eles utilizam toda a informação disponível a eles - o efeito de uma política econômica pode ser radicalmente diferente, a depender de como se percebe tal mudança. Por exemplo, se o Banco Central anunciar uma política de combate a inflação, e os agentes perceberem este anúncio como crível, o custo da política pode ser pequeno (em termos de perda de produto de curto prazo), na medida em que firmas e trabalhadores ajustam para baixo suas expectativas de inflação. No mundo dos modelos macroeconômicos da década de 70, esse anúncio seria completamente irrelevante, já que os agentes formam suas expectativas usando só a informação passada.
Nos últimos anos, a crítica de Lucas não só tem influenciado a academia, mas também formuladores de política. Todo o ponto do sistema de metas de inflação, por exemplo, é anunciar o comprometimento do Banco Central com inflação baixa, tentando assim influenciar a formação de expectativas dos agentes.
Mas como essa discussão se relaciona com o futebol (e, em particular, com Galvão Bueno)? Suponha uma partida em que o time A venceu o time B por 1 a 0, mas o ártibro não deu um gol legal para B. Várias pessoas argumentariam que, se a falha não ocorresse, o jogo terminaria em 1 a 1. Não necessariamente, segundo a crítica de Lucas. O ponto é que o gol de B mudaria o comportamento das equipes. Por exemplo, frente a um empate de B, o time A poderia se comportar mais ofensivamente, na busca da vitória. Sem informações adicionais, não dá para afirmar nada sobre o resultado final.
No último jogo Brasil e Argentina, Galvão Bueno argumentou que o Brasil estava sendo prejudicado no primeiro tempo, por conta do cartão amarelo não dado a Mascherano pela falta em Kaká (puxão de camisa). Minutos depois, frente a uma falta similar, Lúcio recebeu amarelo, levando Kaká a reclamar e receber também a punição (que o retirou do jogo contra o Paraguai). Galvão sustenta que:
(i) Se Mascherano recebesse o amarelo, Kaká não teria reclamado (como se isso fosse desculpa para a reclamação)
(ii) Mascherano teria sido expulso ao final do primeiro tempo, quando fez falta dura (e finalmente tomou amarelo)
O ponto (i) claramente passa o teste da crítica de Lucas. Galvão supõe corretamente que Kaká reage à "mudança de política" (o amarelo não mostrado ao defensor argentino), reclamando do árbitro. Se o cartão fosse mostrado a Mascherano, o meia brasileiro provavelmente não reclamaria e não seria punido. Mas o segundo ponto está em desacordo com Lucas. Se já estivesse pendurado, Mascherano com certeza não faria a falta dura que lhe deu o amarelo, correndo assim o risco de ser expulso.
Fica então a pergunta: por que Galvão supõe que apenas o brasileiro é um agente sofisticado, que reage à "mudança de política"?
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
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Porque ele acredita que os argentinos são heterodoxos, na linha dos Cepalinos e não levam muito o tal dos "agentes racionais" a sério...
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ResponderExcluirPorque ele achou que o jogador argentino não mudaria seu comportamento com o cartão amarelo. Ele correria o risco de ser expulso para exercer uma marcação mais forte, ao invés de relaxar a marcação e permitir que o kaká construísse uma avenida na intermediária.
ResponderExcluirEu diria que de duas, uma:
ResponderExcluir1) Galvão Bueno é como "previsão do tempo": é comum dar "bola fora" (seja na Fórmula 1 ou no Futebol!)!
2) ou acabou se perdendo na fala e ficou parecendo um disco riscado de tanto repetir que a vida de Maradona estaria se tornando um tango (que é caracterizado pelo sofrimento...)!
Concordo, e sabemos que o nosso ilustríssimo "amigo da rede globo" nunca se mostrou inclinado a estudos economicos, principalmente depois de sua previsão de rubinho ganhando, somente pq todos os fatores estavam favoráveis: "hoje nao, hj nao! HOJE SIM...HJ SIM!!!". Porém TEMOS que levar em conta que os argentinos não são agentes racionais, tanto que puseram uma boneca de porcelana maquiada no comando da seleção!
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