terça-feira, 29 de setembro de 2009

Confusão no Metrô

Ontem o Metrô de São Paulo testou um novo esquema de embarque em horários de pico, nas estações Sé e Tatuapé. Para conter o empurra-empurra, permitiu-se que um número limitado de pessoas tivesse acesso à área de embarque. Os demais esperariam em um barreira, até que o próximo trem chegasse.

O resultado não foi dos melhores, já que o empurra-empurra foi transferido para a barreira. Tudo isso junto com a chuva (que torna o metrô mais lento) fez com que a operação fosse abortada após 45 minutos.



(foto extraída do portal do Estadão, 29/9/2009)

Uma forma simples de aliviar o problema da lotação em horários de pico é através do preço. Um bilhete mais caro na hora do rush faria com que diversas pessoas optassem por horários alternativos, que teriam um preço relativamente baixo. O metrô de Santiago, no Chile, adota um esquema do tipo, cobrando mais caro por viagens entre 7:00 e 9:00, e entre 18:00 e 20:00 (veja aqui).

É claro que isso pode criar substituição para outros meios de transporte, transferindo a lotação para ônibus e trens, por exemplo. Desta forma, seria necessário também ajustar as tarifas nos horários de pico também nestes casos.

Um efeito colateral perverso pode ser o aumento do número de carros nas ruas na hora do rush, se imaginarmos que as pessoas utilizavam o metrô (mesmo possuindo um automóvel) por conta da tarifa relativamente barata. Neste caso, seria necessário também criar uma punição, como o pedágio urbano, para quem usa o carro em horários de pico. Mas isso está longe de ser uma realidade em São Paulo. Deixo esta discussão para outro post.

18 comentários:

  1. Caros Mauro e Carlos, boa noite!

    Trabalho aqui numa fazenda no interior da floresta amazônica, distante 210 km de Belém, mas gosto de ler o que presta.

    E além do blog de vocês, tive o prazer, hoje, de folhear no aeroporto de Belém o seu livro. AINDA não comprei, MAS já está agendado para compra. Gostei demais do estilo e espero que tenham todo o SUCESSO que, sei, é deveras merecido.

    Saudações acadêmicas e florestais,

    Abração,

    João Melo, direto da selva

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  2. Estou acompanhando este assunto do metrô em São Paulo, durante quase seis anos fui usuário e sei da confusão que é.
    E como é bom saber que existem alternativas "ECONÔMICAS" para MUDAR uma situação.
    Sempre ECONOMISTA, CAPITALISTA e favorável ao LIVRE MERCADO.
    Abraço,
    João Melo, direto da selva

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  3. Professor Mauro.
    Sou um grandessíssimo admirador do blog, comprei o livro (ainda não li) e fui seu aluno de Macroeconomia 2 na FEA-USP (eu fui um aluno bem mais ou menos...haha)
    Parabéns pelo projeto Sob a Lupa do Economista.
    Tenho grande honra de dizer a todos que fui seu aluno.

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  4. Prezado Mauro,
    Se a sugestao da barreira, ou a sua (elevaçao de preços), têm como motivaçao central aumentar o bem estar daqueles que utilizam o transporte coletivo, neste caso, atraves da reduçao do “empurra-empurra” (a idéia é essa ou apenas diminuir o fluxo de passageiros?), nao seria necessário levar em consideraçao os custos associados a cada uma das sugestões?
    Quanto a primeira sugestao, parece ter ficado claro: o sujeito nao entra numa batalha na porta do trem, mas entra um pouco antes, tentando um lugar proximo da barreira. Já a segunda sugestao parece ter custos maiores. Além do custo monetário obvio, me pergunto se o trabalhador que saiu de sua casa, 40 km distantes da Sé, às 4hs da manha, preferiria ficar se empurrando na porta do trem ou ficar “enrolando” depois do trabalho para pagar uma tarifa menor, já que para muitas pessoas o custo do transporte representa parcela significativa de suas despesas mensais. No final, me parece, o bem estar seria menor.
    Apesar das dificuldades de implementaçao, que tal multar cada um dos mal-educados que se recusar a formar uma fila?

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  5. Cá,
    Acho que a barreira de fato não funciona. Ela simplesmente transfere o empurra-empurra para um estágio anterior.
    Quanto ao aumento de preços, eu acabei não discutindo no post o impacto distributivo da mudança. É verdade que as pessoas com tempo pouco flexível vão se dar mal, pois terão que pagar um preço mais caro. E acredito que os mais pobres estejam em ocupações menos flexíveis, ou seja, a medida tem o potencial de piorar a distribuição de renda.
    Acredito, entretanto, que há outros meios de distribuir renda que não usem mecanismos de preços (como o preço baixo do metrô). O Bolsa-Família mostra isso.

    Hélio e João,
    Fico bastante feliz que vocês apreciam nosso trabalho.

    Grande abraço a todos e obrigado pelos comentários.

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  6. Caros,
    gostaria de entrevistar um de vocês pra falar do Blog no Revista CBN, programa que vai ao ar aos sábados e domingos das 12h às 13h. Há uma parte do programa chamada Blogueiros. Podemos falar também da parceria com e Época...
    Por favor entrem em contato:
    fernando.andrade@cbn.com.br

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  7. Boa tarde professores.
    Bom, pelo que eu entendicom relaçao ao aumento de preços tanto para o metrô, quanto para os ônibus e carros, o metrô ainda seria a melhor opção. Tanto dentro quanto fora dos horarios de pico. Já que haveria aumento de tudo mesmo...Não há engarrafamento nos trilhos. Acredito que essa nao seja a melhor opção.

    Saindo um pouco dessa discussão, li hoje a reportagem com vocês na revista Época e me interessei bastante pelo livro e a partir de hoje também acompanharei o blog. Sou estudante de Economia UFF e estou quase trancando a faculdade para me dedicar somente a contabildide, faculdade que comecei este semestre devido a insatisfação com a economia. Agora, nao sei se esta insatisfação é com a Economia ou simplismente com a faculdade, visto que nao tive uma boa Macroeconomia I e minha Macroeconomia II foi dada por um professor de pensamento economico( Adam Smith, David Ricardo, Karl Marx). Os professores de Microeconomia também nao foram do melhores. Gostaria da opiniao de vocês quanto a isso.
    Muito obrigado

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  8. Caro,

    Vejo em economia muitas coisas óbvias que não são implantadas por causa da política..

    essa do pedágio urbano pra mim é uma coisa óbvia que toda grande cidade deveria ter...

    porque alguém que não tem que pagar pelo asfalto, através de impostos??

    melhor que só pague quem usa!!

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  9. Renata,
    A ideia é que as pessoas não substituam entre meios de transporte, mas sim entre horários. Por isso teríamos que aumentar o preço de outras alternativas disponíveis no mesmo horário.
    Fico feliz que você tenha se interessado pelo nosso trabalho. Na verdade, eu acho economia um assunto muito divertido, mas essa é uma opinião bem viesada. Se você quiser, nós temos uma amostra do livro disponível online (logo abaixo do cabeçalho do blog, à direita).

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  10. Mauro,

    Tenho a impressão que o problema que era visto era um de commons, não? Espera a porta do metro era um bem comum de livre acesso, e existem mais pessoas esperando em frente à porta que o socialmente ótimo (o que levava a empurra-empurra, como vocês descreveram). Criar uma fila é criar direitos de propriedade (por ordem de chegada) ao lugar em frente a porta do metro, e por isso, deveria reduzir o congestionamento original. Naturalmente, passamos a ter a briga p/ conseguir direitos de propriedade...o que eu não sei se faz eles ruins. Por mais que a solução da fila não seja uma forma ótima de alocação de recursos, ela deve ser uma forma de melhorar a situação inicial, não (desde que a ordem da fila seja definida de uma forma razoável)?

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  11. Michel,
    Na verdade esse foi um primeiro teste. Pode ser que dê certo mais para frente. Mas a primeira experiência foi um desastre. De fato, os direitos de propriedade estão garantidos para quem chega na frente. O problema é que a briga para quem chega antes (e ganha o lugar entre os poucos que vão embarcar a cada vez) foi transferida para antes da barreira.
    Ou seja, não há direitos de propriedade sobre os direitos de propriedade!

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  12. A solução é uma só. Investimento em mais linhas de metrô e/ou melhoria das condições de utilização das outras modalidades de transporte público. Não adianta ficar remendando um problema que sempre serão criados outros problemas ou transferidos para outras áreas.

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  13. Verdade, Igor. Mas até isso acontecer...

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  14. Professor, aumentando o preço do metrô em horário de pico e supondo que não vá haver redistribuição (por causa de um aumento do custo dos outros transportes), será que isso realmente beneficiará a população? - a meu ver, a intenção é essa: reduzir a lotação, beneficiando o consumidor.

    Acredito que a "demanda por metrô em horário de pico" não é muito elástica. A maioria dos trabalhadores tem horários inflexíveis, principalmente pela manhã. Isso faria com que a lotação reduzisse muito pouco, e as pessoas teriam que arcar com custos às vezes muito pesados para suas rendas.

    Concordo que o melhor jeito de discriminar é aumentando preço. Mas meu ponto é: esse preço teria que ser muito elevado para que a medida tenha resultado eficiente. E será que isso levaria ao objetivo final(melhorar as condições para o usuário)?

    Acredito que soluções devem ser tomadas na logística. Mais trens, maior velocidade nas viagens, etc. Inclusive a medida que foi tomada, que funcionou bem no segundo dia de teste.

    Mas deixemos isso com os engenheiros.

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  15. JNJ,
    O meu ponto é criar uma diferença de preço entre horários. Podemos implementar isso de outro jeito: reduzir o preço da passagem fora dos horários de pico. Dessa forma, as pessoas inflexíveis não seriam prejudicadas.
    Mas tem um grupo que se dá mal com isso: quem paga imposto.

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  16. Elevar preço pode ter efeito perverso sobre os usuários de baixa renda que não têm flexibilidade de horário em seus empregos. Aumentar o número de vagões, repassando o ônus para o Metrô, seria uma alternativa?
    Saudações.
    Marcelo

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  17. Marcelo,
    É o mesmo ponto do meu comentário anterior. No fim esse custo não vai para o metrô, mas para quem paga imposto.
    Se seguirmos essa lógica ao extremo, poderíamos fazer com que a passagem fosse gratuita nas horas de pico, para beneficiar aqueles com trabalho inflexível. Existem outros meios mais eficazes de redistribuir renda que não distorcem preços. O bolsa-família é um ótimo exemplo.

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